domingo, 27 de agosto de 2017

SONETOS DE UM OCTOGENÁRIO

SONETOS DE UM OCTOGENÁRIO   Raymundo de Salles Brasil


AS PEGADAS DE JESUS
      
De boa vontade tem gente que aceita,
De logo, a Palavra, e se entrega a Jesus,
Tem gente que não, que reluta e rejeita,
Até ficar cega, sem paz e sem luz.

E assim como Saulo também se deleita,
Se curva à presença do Marte da cruz;
Mas gente há de pedra, que dura foi feita,
Jamais se converte jamais se conduz

Por passos deixados na terra por Cristo,
Se prego, se falo, me canso, desisto,
São pérolas postas, aos porcos, jogadas.

Só resta ter pena por tanta loucura,
Tem gente não sabe que a alma tem cura,
Que é só de Jesus ir seguindo as pegadas.

UM TEMA NOBRE
                 
Uso meu verso para tema nobre,
Falar de amor é sempre um prato cheio,
Pois ele por si só, abrange, cobre
Qualquer tema maior, sem ter receio;

O ouro, a prata, a joia rara, o cobre,
O vil metal – corrompem, minam, creio.
Eu prefiro pedir a Deus que sobre
Pão, ou que nunca falte em prato alheio,

Nem no meu falte - até que eu não mereça.
Sem ouro ninguém morre – que eu conheça,
Mas se morre sem pão – e é dor sem nome.

Não tem no mundo nada mais cruel,
Nem tão amargo – muito mais que o fel –
Que alguém morrer ou padecer de fome.


POR TODO MUNDO QUE CULTIVA A PAZ
                                   
E se algum dia algum levita ler
Este verso que eu faço com carinho,
Ele (o meu verso) não será sozinho,
Em boa companhia vai viver.

Levita, digo, sim, porque a meu ver,
Meu verso, o faço no tear com linho,
Não quero vê-lo maculado ao vinho,
Com as coisas do pecado e do prazer.

Não digo que ele seja grande cousa,
Não se atreve o meu verso e nunca ousa
Proclamar-se melhor do que os demais,

Mas ele gosta muito de ser lido,
Relido, meditado, compreendido,
Por todo mundo que cultiva a paz.


COMO É QUE DEUS PODE GOSTAR DE MIM?


Natal, Natal, já está se aproximando!
Dois mil e doze está chegando ao fim,
Acho que pelo menos, vez em quando,
Meu Deus, um pouco, se agradou de mim.

Entretanto, se fico meditando,
Em mim descubro tanto de ruim...
Que às vezes me surpreendo duvidando:
Será que pode Deus me amar assim?
SONETOS DE UM OCTOGENÁRIO   Raymundo de Salles Brasil

E refletindo, meu pesar redobra,
Porque sei tanto o quanto a sua obra
De homens santos necessita, enfim.

E longe de alcançar esse padrão
Eu me pergunto e ausculto o coração:
Como é que Deus pode gostar de mim?


DIÁLOGO

Meu coração anda ficando triste,
Com certos fatos do meu dia a dia.
Meu coração padece quando assiste
Coisas e coisas que antes não se via.

– É a mudança dos tempos, como viste,
Não devemos viver na nostalgia,
Pois é fechando os olhos que consiste,
Talvez, um pouco de sabedoria.

Não cabe essa tarefa aos saudosistas,
Nem tão pouco aos poetas e aos artistas:
Mudar, voltar o mundo ao que era antes!

– Mas, convenhamos nós, já bem vividos,
Forjados no passado, em tempos idos,
Que são certos costumes aviltantes.


AS ESTROFES
                 
Eu não sei descrever este colosso,
A estrofe, quando vem, como é bem vinda!
Ela é capaz de me tirar de um poço
Ou de aflorar-me a mocidade finda.

Sinto-me como dantes, muito moço,
Minha’alma faz cantar, sonhar ainda,
Quando me vem a estrofe pronta, ouço,
Repito-a muitas vezes, acho-a linda.

Nem sempre a estrofe é parte de um poema,
Pois sozinha acalenta a minha dor.
Um verso já me basta! Basta um tema!

E eu teço estrofes como alguém as rendas,
Falo de fé, de paz, falo de amor,
Elas são, para mim, preciosas prendas.
07/12/2012


A MÚSICA DO VERSO

A música do verso é que me embala,
O trinado do verso é que me atrai,
A mensagem, semente, ela me fala,
E como em terra fértil ela me cai.

Quando nos dedos eu confiro a escala,
Para ver o meu verso com vai,
Se de trapos vestido, ou se de gala,
Porque de qualquer jeito ele não sai.

Deixo-o no canto se tiver mensagem,
Esperando que chegue uma roupagem,
Para vesti-lo condizentemente.

Não vou deixar meu verso por aí,
Mendigando leitura aqui e ali,
Como se fosse um simples indigente.


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"Posso todas as coisas naquele que me fortalece"