sábado, 25 de setembro de 2010

AMOR AO PRÓXIMO

Se o ser humano amasse como a si
Mesmo, o seu semelhante que está perto,
Quantas gotas de lágrimas eu vi
Lançarem-se num sáfaro deserto,


Que poderiam transformar-se ali
Em pérolas de risos entreabertos.
Quantas! Quantas pessoas eu feri
Podendo-lhes de flores ter coberto.


Enquanto o coração frígido dorme
Nós vamos praticando o mal enorme
De omitir o amor, num simples gesto...


Quando melhor pra todos nós seria
Dividir nosso pão de cada dia
Em vez de apenas dar migalha ou resto.

EMOÇÃO

A Geraldo Salles




Lembrando-te de mim quando tu leste
De Raul de Leoni “Perfeição”,
Confesso-te que a mim tu me encheste
De uma enorme saudade e de emoção.


Com a maneira gentil como se veste
Tudo aquilo que vem da tua mão,
Com os versos de Raul tu o fizeste,
Lembrou-me de Layrton– amigo-irmão.


À tona ressurgiu a minha infância...
Trouxeste-me, pra perto, uma distância
Que somente a saudade faz trazer.


Meu coração se encheu de mil lembranças...
Bem lá dos nossos tempos de crianças
E misturou saudade com prazer.

A RAINHA DO LAR

Curvo-me a Deus de joelhos, porque tenho
Sob os cuidados meus uma rainha,
Que se entrega com todo desempenho
Aos misteres da casa e da cozinha.


Nas horas vagas vão, com arte e engenho,
Suas belas mãos, com pano, agulha e linha,
Formando a cada ponto algum desenho,
E costurando a sua vida à minha.


É lindo vê-la lendo as escrituras,
Ministrando aos seus filhos, com ternuras,
A palavra de Deus – viva e gloriosa.


A dádiva de Deus mais excelente!..
Dentre tantas mulheres, uma crente,
Exemplo vivo de mulher virtuosa.

DIAS AZIAGOS

Tem dias como hoje, a gente acorda ruim,
Carpindo uma saudade sem saber de que...
E fica tudo triste e a gente fica assim,
Todo sem graça - até que todo mundo vê.

– Você está macambúzio... o que é que tem você?
Pergunta-me a esposa que não sabe enfim,
Que até mesmo eu não sei, nem vou saber porquê;
Só sei que uma saudade enorme eu sinto em mim.

– Deve ser isso... aquilo... ela vai perscrutando...
O seu olhar de lince vai me penetrando...
Finalmente conclui, depois que muito insiste:

Mas isso passa logo, você logo esquece...
E ela acaba falando como se soubesse
Porque tanta saudade, porque estou tão triste.

domingo, 19 de setembro de 2010

FRUSTRAÇÃO

Às vezes eu me quedo em profundo cismar...
Todo meu corpo dorme em prostração letal...
Meu pensamento apenas flui – a meditar...
Buscando compreender melhor o bem e o mal.


Fugindo da mordaz tendência de julgar,
Essa pecha infeliz que faz a cada qual
Julgar-se superior para descriminar,
E vaidoso sentir-se o ser humano ideal,


Eu vejo em cada olhar e em cada gesto lhano
Semelhança de Deus – e nesse estado insano
Eu vejo em cada ser humano a perfeição.


E de guardas abertas para a falsidade
Tarde demais desperto para a vil maldade,
Que o homem traz, também, demais no coração.

RECÍPROCA

Ao poeta Antônio Mesquita, em agradecimento à gentileza dos seus versos – frutos de uma velha amizade.



Quem a coroa real usou um dia,
Quem o cetro empunhou da realeza,
Não perderá jamais a fidalguia,
Será chamado sempre Vossa Alteza.

Quem ao talho imprimiu tanta leveza,
E fez de cada verso u’a melodia,
Chegando a ver nos pobres meus, beleza,
Tem nas mãos o condão e a magia.

Eu faço votos que essa pré-estréia
Tenha a intenção e a primorosa ideia
De, toda a face revelar, do artista.

Vamos dizer que seja este o momento
De você revelar com o seu talento,
Todo o estro de um velho sonetista.

SONETO PARA RAYMUNDO SALLES

Faz algum tempo já, amigo-irmão,
Que tento te fazer um bom soneto
Que sairá, por certo, eu te prometo,
Com as rimas mais fiéis do coração.


Confesso que “perdi a embocadura”
No trato com a tal composição,
Eu que outrora dela lancei mão
E que não fiz, assim, tão má figura.


Há dias, meu exímio sonetista,
Quero louvar o teu grande talento
E tua alma gentil de belo artista


Do verso, cantador de bens e males,
E proclamar, num arrebatamento:
Bom mesmo de soneto é o Velho Salles.


Antônio Mesquita

A LÁGRIMA DE DEUS

Como se fosse a lágrima pingente,
Que rolasse dos olhos marejados
De Deus, a estrela pálida cadente
Que eu vi descer dos céus iluminados,


Fez-me pensar na dor de um Deus clemente,
Que viu, na cruz, os membros lacerados
Do filho amado, único e inocente,
Para salvar os homens dos pecados.


E hoje, depois de quase dois mil anos
De tanta espera e tantos desenganos
Fica Deus ainda mais cheio de mágoa;


Contemplando o seu mundo com tristeza,
Vê nas ações dos homens a vileza,
E fica, então, com os olhos rasos d’água.

VIRTUDES

Na negra noite – o brilho das estrelas...
Na espessa mata escura – os vaga-lumes...
No tenebroso mar – navegam velas
E brincam lindos peixes aos cardumes.


Nascem flores do lodo – adoro vê-las!
Dentre os espinhos, exalam mil perfumes
As rosas cândidas, e ali entre elas,
Balança um ninho com pássaros implumes.


É a natureza, muito sábia, lendo
A virtude no mau, o belo no horrendo,
Para mostrar-nos quanto o orgulho é vão.


Na impureza de um homem da ralé
Viu Jesus a brilhar a luz da fé
E levou para o céu o bom ladrão.

QUANDO TUDO SÃO FLORES

O sol já se espreguiça entre um e outro bocejo;

A noite no horizonte colhe os cobertores;
O sono me fugiu... levanto, saio e vejo
No quadro da manhã, os primeiros albores.


Dos pássaros contemplo as primícias do adejo,
Da pequenina abelha, o sugar dos sabores.
Que esplendoroso e belo dia eu antevejo!
Que lindos raios suaves despertando as cores!


Da relva mais rasteira, à mata virgem, tudo
Se descobre do manto negro de veludo
Para mostrar da cor todos os esplendores.


É assim também quem ama – a alma se ilumina!
Basta nascer o amor – que deslumbra e fascina –
Para que tudo em volta, tudo, sejam flores.

UTOPIA

Assim como se planta árvore frutífera,
Eu queria plantar um pé de poesia,
Tão resistente à arma bélica e mortífera,
Que crescesse robusto e frutos desse um dia.


Cuja semente pura fosse tão prolífera
Que pudesse arrancar a ira e a felonia
D’alma e torná-la então tão bela quanto aurífera,
Inundando-a de versos e de melodia.


Mas que fosse de amor e paz todo meu verso,
Isento da mordaz perfídia e do satírico,
Que fosse cristalino e puro e “régio e terso...”


Que em lugar de sanções, de ódios e de guerra,
O meu verso de paz e amor – sonoro e lírico –
Ouvisse-se cantar pelos cantos da Terra.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O IMPIO

Para o seu semelhante, frio ele arquiteta
Os mais sofisticados planos maquiavélicos;
Esquece o coração, forja, maquina e injeta
Suas fórmulas letais e seus projetos bélicos.


E assim formam-se as guerras e os conflitos, meta
Traçada por satã e pelos seus prosélitos.
Em nome do amor – mata e a paz de Deus – objeta.
E crucifica e fere o Deus dos evangélicos.


Nessa caminhada, assim satânica e perversa,
Às pegadas de Deus , conscientemente adversa
Ele ignora o Bom e o bem, julga-se eterno...


E com toda essa empáfia vai se chafurdando:
Primeiro pela lama impura vai passando,
Até se deparar com o mais profundo inferno

TRICÓTOMO

Vimos perto da estrada / o inusitado / par –
A flor e um pedregulho, / ambos contritos, / sós.
Ele – a feição cansada / e enfadado / ar;
Ela – cheia de orgulho / e os olhos fitos.../ Nós


Vimos o som marulho / e o ondulado / arfar
Da brisa bafejada... / sons e ritos, / voz
Das matas – o barulho / bem montado / – a voar
Cavalgando a lufada / – quais os mitos / veloz.


Fiquei meditativo / imaginando / Deus
Contemplando a beleza / e a perfeição / sem par
De toda a natureza – / a comunhão / no ar;


Mas vi Deus pensativo / contemplando / os céus,
Olhando triste, quedo / – em mil pedaços / loucos –
Quebrarem seu brinquedo. / Restam traços,/poucos.

O RETIRANTE

Banido pela seca do sertão, fizera
Uma viagem sem volta, em busca de igualdade.
Deixando uma mulher e filhos na tapera,
Galopou no seu sonho de felicidade.


Só quando lhe caiu a última quimera,
Bateu-lhe na razão a dura realidade...
Pois que tão diferente dos seus sonhos era
O cotidiano cruel de uma grande cidade.


Sem trabalho, sem pão e sem sonhos sequer,
E tendo uma tapera, filhos e mulher,
Chorou pedindo a Deus lhe deixasse voltar;


Mesmo que fosse assim, de mãos puras, vazias,
Mesmo pra passar fome o resto dos seus dias,
Mesmo que fosse até pra nunca mais sonhar.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

ÁRVORE GENEALÓGICA

Eu vou tentar futucar
As gavetas da memória
E peça a peça montar
Um pouco de minha história.


Vou deixar pra meus bisnetos
Este pequeno relato,
Vou ressuscitar afetos:
De onde foi que eu vim, de fato.


Vou falar da nossa vida
Sem evitar emoção,
Pois a história pretendida
Quer falar do coração.


Já estava na eternidade
Meu avô – morreu bem moço;
Nunca tive, na verdade,
Um avô de carne e osso.


Martinho, meu avô paterno,
Dedicado professor,
Foi temente ao Deus Eterno
E ensinou com muito amor.


Minha avó, mãe de meu pai,
Eu também não conheci,
Mas ouvi-lhe a voz, seu ai,
Nas cartas dela que eu li.


Mulher muito inteligente,
Poetiza de alma pura,
De caráter forte e mente,
E de pequena estatura.


Seu ventre gerou dez filhos
Saudáveis, inteligentes,
Nunca saíram dos trilhos;
Foram boas as sementes:


Foi José Batholomeu
Que inaugurou a fileira
O primeiro a ver o céu
E o afago da parteira.


De caráter impoluto
Nas atitudes, valente,
Perspicaz e muito arguto
E de palavra fluente.


O segundo foi poeta,
Nasceu Raimundo Nonato,
Amava a rima seleta,
A boemia e o prato.


Dosanjos foi a terceira,
A mestra por excelência,
Ensinou a vida inteira
Com muito amor e paciência.


Juca Salles – um artista,
Na voz, nos gestos, no olhar,
Era um completo humorista,
Oralista lapidar.


A seguir vem Marieta:
Também muito inteligente,
Se usava pouco a caneta,
Usava de sobra a mente.


Antônio nasce perfeito,
O mais baixinho dos varões,
Doutor nas leis do direito
E na língua de Camões.


Fecunda, Dona Etelvina,
Ganhou, de mimo, outra vida,
Foi chamada, essa menina,
Carinhosamente Gaída.


Vem Francisco na seqüência,
Que virou Padre bem cedo,
Já mostrava essa tendência
Desde os tempos do brinquedo.


E como se não bastasse
Minha avó pare outra vez
E a alegria põe na face
De Maria das Mercês.


E por fim nasce um arauto
Do direito, sem desdouro,
O nome dele é Adaucto,
Fechou com chave de ouro.


          ****


Não falo do meu avô
Materno, também pudera:
Nunca soube ele, quem sou,
E nem eu quem ele era.


Conheci vovó Josefa
Por ela tive ternura
Não lhe foi fácil a tarefa
De viver, morreu sem cura.


Foi também muito prolífera,
(Naquele tempo era assim)
Como árvore frutífera
Que dá fruto até o fim:


Eduardo, de fala mansa,
Meu tio de alta estatura,
Guardo dele na lembrança
Um caráter sem censura.


Conhecida por Das Dores,
Mas para mim Tia Nene,
Entre os meus grandes amores
Teve o seu lugar perene.


Tia Odete uma pessoa
Que viveu seus maus momentos,
Foi alegre e sempre boa,
Apesar dos sofrimentos.


Minha mãe, Maria Helena,
Era por todos amada.
Morreu tão cedo, que pena!
Minh´alma ficou marcada.


Tia Lulu, a mais nova,
Co’os sobrinhos se confundia
Era alegre como a trova,
E as costuras que fazia.


Vermelho da cor de cedro,
Como as espigas de milho
Espigado, meu tio Pedro,
Teve mais de vinte filhos.


          ****


O primeiro de Etelvina
Pela quarta de Josefa,
Se apaixona – ela menina,
Conquistá-la – eis a tarefa.


Mas o tempo foi passando,
A menina foi crescendo,
O rapaz se insinuando,
A menina foi cedendo.


Nasce então um grande amor
Que o casamento acolheu
Helena – uma linda flor –
Com José Bartholomeu.


          ****
A segunda geração
Sem mais demoras começa
E foi Lázaro, então,
O primeiro ator da peça.


Mas não teve muita sorte,
Ou até teve, quem sabe?
É melhor que venha a morte
Antes que a vida desabe.


Logo depois vem Rodrigo,
Esse segundo vingou,
Mas não foi feliz consigo
E a vida lhe desabou.


Nasce Raymundo – o mais feio,
E o menos inteligente,
Mas nunca teve receio,
Teve fé em Deus, é crente.


Nasce em seguida Etelvina,
Morreu tão cedo, por quê?
Não chegou a ser menina
Morreu ainda um bebê,


Não sei se era noite ou dia,
Mas minha mãe deu à luz
Linda menina – Maria,
Nome da mãe de Jesus.


A um ano ou pouco mais
A tristeza inominável
E as conseqüências fatais:
De uma moléstia incurável,


Muito grávida, adoece
Minha mãe, jovem ainda.
Quando ao parir, desfalece,
Morrem ela e a menina.


Parece o mundo caiu
Sobre os ombros de meu pai,
Foi tanta dor que sentiu,
Que ele também quase vai.


Mas o tempo, esse remédio,
Que cura todos males,
Curou, pouco a pouco, o tédio
Da alma de Zezinho Salles.


Depois de alguns anos, triste,
A si mesmo ele promete
Levantar-se, pôr-se em riste,
Pelos encantos de Dete.


E novo dia alvorece
Na vida de seu Zezinho
Que a Bernadeth oferece
Seu amor e o seu carinho.


Sete filhos são gerados
Dessa bendita união;
Primeira dos alistados
Maria da Conceição.


O segundo é um varão,
Cabra muito inteligente
Meu amigo, meu irmão,
É Geraldo, boa gente.


Nasce agora outra menina
Gente também muito boa,
É a segunda Etelvina,
Casou-se com Zé Pessoa.


Em seguida vem Amaro
Atilado, perspicaz,
Negociante de faro.
Teve uma vida fugaz.


Tantos filhos tendo feito,
Como meu pai, poucos vi,
Não se deu por satisfeito,
E pôs no mundo Davi.


Solidário, generoso,
“Cabra bom nosso Davi,
Ah! Ficaria orgulhoso
Meu pai se voltasse aqui.


Por falta de prevenção,
Contudo pra nosso gáudio,
Nos veio à luz outro irmão
Que batizamos de Cláudio.


Chegou-lhe ao fim sua vida,
O câncer lhe surpreendeu,
Quase assistiu-lhe a partida,
José, que depois nasceu.


Um bom menino, sem máculas,
Hoje já é homem feito,
Formado em letras vernáculas
E é bacharel em direito.


E com José se completa
A terceira geração
Mas para atingir a meta,
Prossigo na narração:


A partir de mim, que faço
Essa xucra narrativa,
Vou inserir nesse espaço
Uma só alternativa:


E como tudo começa
Com muito amor e atração
Não foi diferente essa
Abençoada união.


          ****


Raymundo, de seu Zezinho,
Se apaixona loucamente
Por Sônia, de seu Tavinho,
E se casam finalmente.


Dessa união nasce a mais linda
Das meninas da Bahia...
Ah, quanto me lembro ainda!
Uma flor – Rosamaria.


E a prole teve a frequência,
Normal nos tempos de outrora,
Naquele tempo a ciência
Não tinha os truques de agora.


Nasce o primeiro varão
Meu Tito, belo rapaz,
Bom filho, bom cidadão
E dele Deus se compraz.


Na sequência um pregador
Com o mesmo nome do Velho,
Ele sai pregando o amor
E as novas do Evangelho.


Em Marcos, meu quarto filho,
Vi a mão de Deus pousando
E ao derramar o seu brilho
Sua luz o transformando.


Foi pra longe, além da conta,
Paulo, em busca do ideal;
Fiquei segurando a ponta
Do cordão umbilical


No meu mundo, vida a fora,
Deus operou maravilhas
E aumentou, com cada nora,
O meu número de filhas.


São mulheres virtuosas,
Meus filhos são felizardos,
Conseguiram colher rosas,
Que nunca tiveram cardos.


E como eu já esperava
Com esta idade que já estou,
A turma que não brincava
Foi me fazendo vovô:


            ****
Rosa põe à luz do sol
O primeiro dos meus netos;
Gustavo encabeça o rol
Desses meus novos afetos.


É Polly que nasce agora,
Um novo e lindo arrebol,
Ela traz a luz da aurora,
E a alegria de um sol;


É como o ruflar de asa
Um riso nos lábios seus,
Enche de sons nossa casa;
Que riso! Graças a Deus.


Ao sopro leve da brisa
Uma cegonha encantada
Aterrissa com Luisa
Numa fresca madrugada.


E Tito põe mais um elo
Nessa corrente de amor
Tal qual o pai é Marcelo
Sem tirar, sem nada pôr.


Mariana foi Deus quem trouxe,
E perdão pedindo estou,
Se não pude ser pai doce
Como deve ser o avô.


Espero que o mal que fiz
Não tenha feito bem feito
E que o bem que sempre quis
O tenha feito direito.


Daniel ainda lactente,
Por incrível que pareça,
Não tirava o gol da mente,
Nem a bola na cabeça.


Bem aplicado na escola
Descobriu novo conceito,
Mesmo gostando da bola,
Pretende estudar Direito.


E de Andréa com Mundinho
Nasce Lucas – um varão –
Se dantes era baixinho,
Hoje um belo rapagão.


Nos estudos concentrado,
Às ciências se destina
O vejo predestinado
A estudar Medicina


Luciana é um primor,
Também filha de Mundinho,
Mundinho, aquele pastor,
Que tem todo meu carinho.


Vai chegando o nono neto,
Alvo de nossa atenção,
Risonho, lindo e dileto,
Filho de Marcos – João.


Como sol de uma alvorada,
Como as primícias do dia,
Alegre qual passarada,
João Marcos é alegria.


E não parou por ai,
Já se espera gente nova
Quando chegar por aqui
Vai me inspirar outra trova.


Lavínia, preste atenção,
Você que vem a caminho,
Não vai faltar coração
Pra colocar o seu ninho.


Meus amores meus afetos,
Para fazer outra estrofe,
Que nos cheguem os bisnetos
Antes que eu morra ou que mofe.

domingo, 12 de setembro de 2010

A MÚSICA DA VIDA

Ao dedilhar a música da vida,
Neste velho instrumento empoeirado,
Ouço da infância, o som leve e dourado,
Que acorda cada corda envelhecida.

Trazendo o novo em som desafinado,
Logo depois, intrépida, atrevida,
Julgo escutar a voz bem percutida
Do moço – afoito, belo, iluminado!

E o tempo vai passando e eu vou tocando,
Imerso no meu sonho, delirando!...
Chego a sorrir na pauta percorrida;

Mas desperto ao final e me surpreendo,
Porque eu estou me ouvindo e estou me vendo
Tocando a marcha fúnebre da vida.

SANTAS DIFERENÇAS

                De um velho anel de bronze azinhavrado,

                ao diamante incrustado..


São tantas e as conheço tanto e tanto...
As nossas diferenças – sei de cor;
Que não foram capazes, entretanto,
De arrefecer das chamas o esplendor.


A mesmice sugere o desencanto;
Diferenças aquecem – dão calor...
Pode a primeira nos levar ao pranto
Deve a segunda revelar o amor.


Então, perfeita a nossa convivência
De – juntos – quatro décadas de essências
Que foram misturadas e se trocam.


São desiguais as notas que se harpejam,
São diferentes os lábios que se beijam
E nós somos extremos que se tocam.

PAIXÃO

Falando de paixão – um velho tema;
Tão velho quanto novo – sempiterno;
Tão capaz de inspirar um belo poema,
Ou fazer de uma vida um grande inferno.


Capaz de transformar em luz suprema,
Em desmedidamente grande e eterno
Um simples beijo e, em carícia extrema,
Um gesto apenas, descuidado e terno.


Paixão não tem medida, nem tem termo,
Descobre multidões onde há só ermo
E deserto nas grandes multidões.


Faz um tirano, um monstro, ou faz um santo;
Levou milhões ao holocausto, enquanto
A paixão de Jesus salva milhões.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

OLHANDO ESTRELAS

                    À memória do poeta de OUVIR ESTRELAS


Falam tanto do poeta que ele é um louco
Porque conversa à noite com as estrelas!
Como Bilac o fez não faz tão pouco
E até chorou quando deixou de vê-las.


Esse amante do belo, esse treslouco,
Faz peripécias mil para entretê-las;
É como ficar cego e ficar mouco,
Deixar de ver, de ouvir, meu Deus perdê-las!


E aos insanos apelos todas elas
Vão piscando as frenéticas pupilas,
Cintilantes e extremamente belas.


Amai e auscultareis seus belos temas!
O coração somente pode ouvi-las
E entender-lhes os líricos poemas.

ESTRELA MATUTINA

No céu ainda brilhavam todas as estrelas,
Num baile singular de luzes cintilantes...
Cheguei mesmo a pedir a Deus para entretê-las
E deixá-las brilhar, por mais alguns instantes.


Pedi que eternizasse a via látea ou, pelas
Preces e súplicas de todos os amantes,
Deixasse, ao menos uma, dentre todas elas,
A mais bela de todas dentre as mais brilhantes.


Foi quando eu vi surgindo por detrás do monte
O sol botando a testa de ouro no horizonte
Como querendo ver a resposta divina.


E eu vi – e o sol também: num céu azul tão claro,
Esplendorosamente só, com um brilho raro,
A escolhida de Deus, a Estrela Matutina.

MINHA MÃE

Tão moça tu te foste desta lida!...
Tão cedo para o céu foste morar!
Foi Deus que te amou tanto, oh! Mãe, querida,
Que não teve paciência de esperar.


Não quis te ver sofrer, nem ver ferida
Um’alma assim tão pura e a quis levar;
Poupou-te das agruras desta vida,
Preparando-te logo um bom lugar.


Certo estou que, na sua sã sapiência,
Previra Deus a minha resistência
Para sobreviver à dor sem par.


Mas confesso-te, oh! Mãe, que ainda penso,
E egoísticamente estou propenso,
A pedir, se puderes, pra voltar.

CONSTATAÇÃO

Estou passando uns tempos no meu sítio,
Na pacífica e remansosa gleba
Onde exercito o prazeroso ócio
E onde me refaço das refregas.


É lá que eu vejo a liberdade plena,
Não é que a veja em mim, que ainda tenho
Alguns grilhões que me acorrentam o vôo,
Mas nas aves, nas árvores, nos campos...


Eles me dão a mais perfeita idéia
Da perfeição de Deus na sua obra,
Imunes do pecado original.


Se os homens permitirem... todos crescem
E viverão felizes para sempre
Como nem as pessoas que se querem.

É CEGO, É SURDO, É LOUCO?

Dói-me saber que alguém se diz ateu;
De tristeza me dói, dói-me de pena.
O insano certamente nunca leu
A Palavra da Vida, eterna e plena.

Nunca se deslumbrou olhando o céu;
Não viu, não contemplou aquela cena.
E, se de olhos no chão, não percebeu,
O pão brotar na manhã que serena.

Não ouve a voz dos pássaros canoros,
A emoção não lhe arrepia os poros,
Nem faz ele chorar, a dor da Cruz.

É cego, é surdo – o ateu? Será que é louco?
Não é capaz de ver, nem mesmo um pouco,
Deus na ressurreição do Rei Jesus?

UMA PEPITA BRUTA

Pequena e bruta, uma pepita rara,
Uma pedra preciosa de valor,
Ao garimpeiro espanto lhe causara
Mas era indecifrável o seu teor.


Para ser revelada em jóia cara
Ou em pedra defeituosa e sem primor,
Não depende da ganga onde a ceifara
Quanto do gênio do lapidador.


Assim pode também uma criança
Vir a tornar-se, ou não, em pedra rara.
Mas se achar quem lhe dê uma esperança,


E lhe fizer ouvir de Deus o sopro,
Seu coração é a pedra de Carrara
E a palavra santa de Deus – o escopro.

A PALAVRA

Para ferir um corpo, aquela mão
Que bate, cansa e muita vez se exausta;
Uma palavra só, no entanto, basta,
Para ferir de morte um coração.


Pode afastar o mais dileto irmão,
Pode manchar a virgem pura e casta;
Uma família inteira ela devasta
E pode incendiar uma nação.


Cuide bem do que falas – da palavra,
Antes de proferi-la aplaina e lavra
Até que fique livre das peçonhas.


Depois de dita nunca mais se cala
E vai pegando fogo a cada fala
Até que as chamas ficarão medonhas.

AO NOSSO AMOR

– Falávamos nós dois, de quê, há instantes?
– Falávamos do amor, da eternidade
Do verdadeiro amor de dois amantes;
Falávamos de nós, não é verdade?


– É, sim, verdade, amor, que, mais do que antes,
Vai-se firmando, agora, esta amizade,
Na mais gigante Rocha, entre as gigantes...
Destruí-la! – que força ou tempestade?


Se a morte um dia separar nós dois,
Não vos inquieteis, irei também,
Assim que anoitecer, logo depois,


Para comemorarmos co’um falerno
Nos jardins celestiais, bem lá no além,
O nosso amor, o nosso amor eterno.

SAUDADE

Você me fez um enorme bem e um mal
Pôs-me na boca e n’alma o mel do favo
Logo depois se foi e de forma tal
Que me deixou do fel o azedo e o travo.


Às pétalas de rosas tal e qual
Fora-me o seu carinho, e o seu agravo
Aos espinhos lacerantes tão igual,
Que as feridas com lágrimas eu lavo.


Sequem-se-me estas lágrimas dos olhos,
Do fel o gosto amargo já nem sinto,
Sararam-se as feridas dos abrolhos.


Deixe-me o mel que ainda sinto o doce
Bem guardado, aqui dentro, no recinto
Desta saudade que você me trouxe.



GENEROSIDADE

Aquele que não vive pra servir,
Não serve pra viver”,diz o ditado;
E bem melhor é dar que usufruir,
Diz o verbo de Deus – santo e sagrado.

A primavera os campos vem florir;
O orvalho molha a flor, o cardo e o prado;
A abelha beija a flor que vai sorrir
E oferecer-lhe o mel adocicado.


Quanta troca de amor, quanta doçura!
Nessa forma de dar, que gostosura,
Que a natureza sábia nos ensina!...

Se o homem se mirasse nesse espelho,
Como seria mais feliz o velho,
Quão mais amena da pobreza a sina!

AONDE E ONDE?

Ah! Que poeta que eu seria
Se soubesse quando e aonde
Ir buscar onde se esconde
O fruto e a flor da poesia!


Se eu compreendesse a magia
Do eco quando responde:
Onde... Onde... Onde... Onde...
Que poemas eu faria!


Pudessem ter armadilhas
Nesses caminhos, nessas trilhas
Dos meus cismares diversos...


Até mesmo entre os escolhos
Eu buscaria alguns molhos
Para enfeitar os meus versos

A MINHA PAZ

Eu fiz muitas e muitas tentativas
Em busca do prazer – todas em vão,
Porque me foram todas tão nocivas,
Não me trouxeram paz ao coração.

Busquei no mundo essas prerrogativas,
E o mundo me acenou para a ilusão
E em todas elas – belas e atrativas –
Um gosto amargo de decepção.

Olhando em volta tudo e vendo nada;
Nas ilusões – uma ferida em cada,
E exausto de buscar a paz no chão,

Olhei pro céu e vi brilhar a luz
Maravilhosa e linda de Jesus
Que me inundou de paz com seu perdão.

AS CONTAS DO MEU ROSÁRIO

Tudo que um poeta escreve ou guarda na memória
São pérolas que abrigam todo seu segredo...
Umas ficam guardadas no porão do medo,
Outras são foscas, e outras vão brilhar na glória.


Talvez, de poeta eu seja um simples arremedo,
Mas sei que há no meu sangue um gene com essa história;
E se não nasce um rei da plebe ou da escória
O poeta traz no sangue o fungo, este levedo,


Que faz de uma palavra um verso, ou mesmo um poema,
De pequeninas gotas de orvalho um diadema
Ou de morrer de amor somente o seu fadário.


Na minha timidez, aqui no meu recanto,
Mesmo que sejam foscas, muita vez me encanto
Com estas contas, que eu conto aqui, no meu rosário.

A LUZ DOS MEUS OPÚSCULOS

Nós dois unimos para sempre as nossas vidas
Num dezembro de luz, de sol, farto de festas.
Imprimimos o amor, aparamos arestas
E nos tornamos um com formas definidas.

Eu sei que fui seu rei, você foi minha vesta,
Tivemos muitas lutas agras e aguerridas;
Caminhamos juntos, nós, por íngremes subidas,
E implantamos a paz no pouco que nos resta.

Se os seus dotes, amor, não são como os de outrora,
Não têm a mesma claridade de uma aurora,
No entanto têm a suavidade dos crepúsculos.

Do nascente ao poente você foi só minha,
Você foi o meu sol, e é a musa rainha,
A bela inspiração e a luz dos meus opúsculos.

PAI NOSSO



“Ensinaste-nos tu, Jesus, a orar.

Para tanto nos deste este modelo,

Que nos levasse a grandes reflexões:

“Ó Pai, que estás nos céus, santificado



Seja o teu nome; venha-nos teu reino,

Que a tua vontade seja feita aqui,

Neste torrão, como também no céu:

O nosso pão de cada dia dá-nos



Hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas,

Como perdoamos nós aos devedores;

Não nos deixes entrar em tentação;



Mas livra-nos do mal, ó meu Senhor,

(Porque o poder é teu e o reino e a glória,

E para todo o sempre, ó Deus, amém.)”







"Posso todas as coisas naquele que me fortalece"