sábado, 30 de outubro de 2010

QUE PALAVRA!

A palavra de Deus, o povo fala,
E com sabedoria, tem poder.
Diante dela qualquer outra se cala,
Por mais erudição que possa ter.

No tempo imensurável – nessa escala –
É o livro mais antigo de se ler,
E mesmo assim se encontra em toda sala,
Penetra o coração e muda o ser.

Palavra sempre nova, nova em folha,
Que pousa em nossas almas como bolha
E deixa lá o Espírito da Luz.

É uma prova inconteste que é de Deus,
Foi lá que eu descobri que os meus, que os seus
Pecados são perdoados por Jesus.

1/10/2010

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

RATIFICANDO

Em confissão de amor, um dia eu disse,
Deslumbrado com tanta formosura:
Eu hei de amar-te até a minha velhice
E hei de achar-te sempre linda e pura.

O tempo se passou sem que eu sentisse,
E foi deixando, em mim, marcas sem cura;
Mas qual pomo te fez, pra que eu te visse
Muito mais linda, quanto mais madura.

Se o sol da minha vida, quase posto,
Fez marcas indeléveis no meu rosto,
Não se atreveu tocar no coração:

Pois ele continua como outrora,
Tão completo de amor quanto na hora
Em que te fiz aquela confissão.

LEMBRANÇAS

Quando nós éramos moços,
Encontramos num caminho
Um jasmineiro coberto
De flores, da cor do linho.

Eu colhia aquelas flores
E ornamentava o teu rosto;
Tu me olhavas e sorrias,
Eu te olhava e com que gosto!...

Aquele arbusto inocente
Cravou no meu peito ardente
Bem profundas suas raízes,

Pois muitos anos passaram,
Mas as lembranças ficaram
Indeléveis e felizes.

PORTEIRA VERDE

No sítio onde eu moro
A vida se encerra:
Tem cheiro de mato,
Tem cheiro de sol,
A chuva caindo,
Tem cheiro de terra,
Sementes se abrindo
Ao quente arrebol...


Eu sinto o sabor
Gostoso do ar
Que traz o odor
Suave das flores...
Eu ouço um coral
De aves entoar,
Ao Deus Criador,
Canções e louvores.


Aqui neste chão
Eu sinto que moro
Na palma da mão
Do Deus Poderoso,
Que eu amo e confio
Que temo e que adoro
E grato anuncio
O meu pleno gozo.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

REFLEXÃO

Mateus 7:3 E por que vês o argueiro no olho do teu irmão, e não reparas na trave que está no teu olho?



   Pensando na minha vida, nos meus erros, nas minhas falhas, no meu cotidiano, é que me veio a necessidade de uma reflexão. De uma reflexão mais profunda, de uma análise menos superficial, de uma crítica mais rigorosa, mais severa, das minhas próprias ações; Entretanto, sabendo que todos os homens são iguais, e é a bíblia que nos diz, claramente, que todos pecaram, e que o que faz a diferença é Jesus, ocorreu-me que esta reflexão, feita sobre mim, pudesse servir a Gregos e Troianos, isto é, a crentes e descrentes. Para todos nós, autor e leitores, neste momento: para uns uma espécie de alerta, para que tenhamos cuidados especiais com as nossas palavras, com os nossos gestos, com os nossos atos, para não ferirmos Jesus, sem o qual, nada podemos fazer; para outros, uma sugestão: que aceitem a Jesus, pois só Jesus é capaz de transformar a nossa vida, só Jesus é capaz de transformar o homem, só Jesus pode dar capacidade ao homem de amar, de perdoar, de mudar; só Jesus pode nos dar a vida em abundância e mais ainda, eterna. Jesus é a única esperança.

   Vamos falar, portanto, um pouco de nós mesmos; de nosso cotidiano, de nossa vida: que coisas nós fazemos, como as fazemos, que cuidados tomamos para não magoar o nosso Deus, esse Deus maravilhoso que nós professamos para não envergonhar Jesus que caminha conosco, para não entristecer o Espírito Santo que habita dentro de nosso coração.

   Todos nós nos preocupamos, se bem pensarmos, se bem refletirmos, com a vida de nosso próximo, não como nos ensina a Palavra: amando-o como a nós mesmos, (Mar. 12:31) mas, sim, olhando-lhe os defeitos, esquecendo-lhe as virtudes, descobrindo-lhe os erros e ignorando-lhe os acertos, constatando-lhe os desvios, sem incentivar-lhe o esforço para caminhar na trilha certa, enxergando-lhe as falhas, mas cegos ao que ele faz com perfeição, apontando-lhe as fraquezas, mas alheio ao seu potencial, pondo, e não raramente, lupa para enxergar-lhe um simples cisco nos olhos e o que é pior, às vezes nos regozijamos por isso. E eu me pergunto agora e lanço estas mesmas perguntas a tantos quantos me leem neste momento: Será que é porque nós nos achamos perfeitos? A bíblia nos diz que todos pecaram (Rom. 3:23); ou porque, assim, estaremos tentando esconder os nossos próprios erros, as nossas próprias falhas, as nossas próprias fraquezas e a trave que está plantada dentro de nossos próprios olhos?

   Será que nós amamos verdadeiramente o nosso semelhante, a quem vemos, ou será uma simples fantasia? Será que nós amamos verdadeiramente o nosso Deus a quem não vemos, ou será uma simples hipocrisia?

   Será que quando nos levantamos ao amanhecer agradecemos a Deus pela bela noite que tivemos e o sono reparador que ela nos deu? A beleza e a riqueza dos primeiros raios de sol com que ela nos entrega o dia? Será que ao levantarmo-nos saudamos alegremente com um bom dia e um eu lhe amo em nome de Jesus, os nossos familiares e serviçais? Será que chegada a noite, depois do nosso dia de luta, de trabalho, de nossa faina diária, na hora de dormir, cansados já, lembramo-nos de fazer um rigoroso retrospecto de nosso dia? Onde erramos, onde falhamos? Aquele gesto indelicado que fizemos, aquela palavra dura que dissemos, aquela frase ferina, aquele dito injusto. Será que estamos dispostos a pedir perdão? Será que os nossos passos por onde quer que tenham caminhado, caminharam com dignidade e respeito, com decência e pudor? Será que pudemos levar Jesus, por onde quer que tenhamos caminhado? Será que tivemos um sorriso alegre e sincero para as pessoas que nos cercam: em casa, no trabalho, na escola, nas ruas? Será que viramos as costas aos que necessitaram de ajuda? Será que os nossos olhos não olharam alguma vez com cobiça ou inveja? Será que não dissemos alguma palavra maledicente, torpe, vil, imoral? Será que, de joelhos, pedimos perdão a Deus e até choramos?

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

NO TEMPO DO MOTRIZ



            Li um artigo de Vitor Hugo Soares publicado em A Tarde de 14/01/05 – “Da janela do Motriz” – e fiquei encantado. É um elogio à letra de Caetano Velloso da música Motriz interpretada magistralmente por Maria Bethânia. O artigo levou-me a ler com mais apuro a letra do nosso poeta e pude perceber que Caetano diz muito mais nas entrelinhas do que propriamente nas linhas dando-me até a impressão de que ele usa as linhas apenas para mostrar as entrelinhas. Fiquei mais uma vez encantado com a beleza das linhas e com a poesia das entrelinhas. Falou-me à alma. Fiz uma viagem no tempo aos idos de mil novecentos e cinquenta e deparei-me indo esperar o Motriz, na Estação da Praça 14 de Junho. Que bom! Que bela viagem! Arre! Estou ficando saudosista demais e não sei se isso é bom. Mas que posso fazer? Se aqui e acolá vem um Vitor Hugo que nem é santo-amarense ou um Caetano Velloso que o é até a alma e me leva a pensar no passado, a viver o passado, a sorver o passado, saborear o passado, a deglutir o passado. E eu termino não achando graça nenhuma no presente, e a realidade não é bem assim. Eu amo o presente e ainda tenho muitos sonhos para o nosso futuro, para o futuro de minha Terra. Sonho com a minha cidade pacata e ordeira, como no tempo do Motriz; sonho com os nossos prédios coloniais recuperados, como no tempo do Motriz, sonho com a nossa Rua Direita trafegando um bondinho puxado a burros para alegria da gurizada e dos turistas, como no tempo do Motriz, sonho com dois coretos na Praça da Purificação exibindo duas filarmônicas, como no tempo do Motriz; sonho com uma cidade limpa, como no tempo do Motriz; sonho com as nossas calçadas responsavelmente cuidadas, permitindo-nos andar sem receios de uma topada, como no tempo do Motriz; sonho com um mercado decente e uma feira-livre organizada e limpa, como no tempo do Motriz; sonho com os nossos jardins gramados e floridos, como no tempo do Motriz; sonho com o Rio Subaé navegável e piscoso, como no tempo do Motriz, e com suas margens arborizadas e iluminadas; sonho com o Largo da Cruz, com o Jardim dos Casados, com a Praça Menina de Toninho Mesquita que não faziam mal a ninguém; sonho com o Apolo e seus bailes de gala; sonho com a Praça da Purificação engalanada para receber em suas passarelas um desfile de moda e de beleza na tradicional festa de fevereiro, como no tempo do Motriz; sonho com a Estação da Leste viva, como no tempo do Motriz. Sonho minha cidade como era no tempo do Motriz e morro de saudade.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

OS SEGREGADOS

Por que viveis, meninas, pelas ruas,
Quais mariposas abanando as asas,
Expondo às feras vossas formas nuas
Se devíeis estar em vossas casas?

E por que vós estais pelas cafuas
Meninos das ralés e dessas vasas
Que vos mostram da vida as faces cruas,
Da morte – o fogo, as crepitantes brasas?

Por que, se vós devíeis, nas escolas,
Estar buscando do saber a glória,
Contentam-vos apenas as esmolas?

– É que quando fizeram-se as partilhas
Nada sobrou pra nós pobres da escória,
Ficou tudo entre os membros das quadrilhas...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

NÃO É PRA SENTIR SAUDADE?

   Acordei hoje, eram 5 horas da manhã, mas ainda embalado por um desses sonhos gostosos, tão gostosos que a gente nem abre os olhos, pedindo para não acordar e, quem sabe, continuar sonhando. Mas aí não tem mais jeito, o sonho já foi embora (que pena!) e a gente se levanta para a realidade, às vezes dura, do agora, do presente, do cotidiano.
   Eu era entre adolescente e jovem e morava na casa número 14 da Praça da Purificação, em Santo Amaro, onde passei parte da minha adolescência e toda minha mocidade, enquanto solteiro. Morava com meu pai e minha madrasta, D. Dete, ambos de saudosa memória. Aquele lugar foi o cenário do meu sonho neste finzinho de madrugada.
   O passeio lá de nossa casa era a sala de estar, onde se reuniam os amigos e os irmãos de meu pai, para maravilhosos bate-papos, mormente nas épocas de festa quando estavam presentes alguns que moravam em Salvador e religiosamente visitavam Santo Amaro nessas épocas.
   Para mim aquelas reuniões eram o melhor da festa. Meu pai era um homem inteligente, bem informado, um excelente epigramista, amante da palavra escrita e falada, atraía para sua porta a nossa elite intelectual. Para mim verdadeiros monstros sagrados.
   Se eu, que até hoje sou mais de ouvir do que de falar, freqüentador assíduo daquelas reuniões, eu era somente ouvidos, mas encantados. Eu era um componente da platéia e eles os meus atores prediletos:
Juca Salles, (José Gabriel de Salles Brasil) um ator genial, fazia rir e chorar, ora representando as suas personagens cômicas, ora contando os episódios dramáticos de São Bento do Inhatá, e da Vila de São Francisco, todos criados ou recriados por ele. Com seu jeitão descuidado de ser, cabelos por cortar, barba por fazer, e aquele corpo franzino, andando como quem pisa em ovos em virtude dos muitos calos que tinha nos pés, ele usava a sua voz de baixo profundo, os seus gestos, e as suas mãos esguias para nos fazer chorar de rir;
   Professor Raimundo Salles, (Raimundo Nonato de Salles Brasil) o lirismo à flor da pele, sua poesia era de rara beleza, estava sempre a nos encantar com os seus versos, as suas trovas, os seus repentes, era um poeta de alma pura. Raimundo tem uma alma de arminho – diziam.
João Moniz Barreto de Aragão, outro grande poeta, (Santo Amaro é incrível!) o orador, mas, sobretudo o poeta, o declamador. Ainda o recordo e me deleito, ouvindo-o recitar Arthur de Salles em Subumbra, Praia em Festa, Ocaso no mar, amaciando a sua voz e dando mais colorido aos versos, como se, possível fosse, dar mais colorido aos versos do velho Arthur.
   Souza Castro, (Antônio Benedito de Souza Castro) comedido, falava baixinho, mas todos nós tínhamos ouvidos atentos porque não queríamos perder uma só palavra do que ele dizia. Brilhante, o velho Souza Castro, o talento dele não se media pelos discursos, mas por uma palavra, um dito, uma frase. Um grande amigo, eu o amava como se fosse meu tio.
   Nestor e Aloísio Oliveira, dois irmãos de talento fulgurante, dois poetas, se o primeiro brilhava com a palavra escrita, o outro era formidável no discurso improvisado, palavra fácil, fluente e bela.
   Participavam daquelas tertúlias, uns, de forma mais assídua, outros esporadicamente, meu tio Adaucto, quando de férias, trazendo o seu entusiasmo, a sua maneira inteligente e simpática de ser e de dizer as coisas; o Pe.Salles Brasil, esquecia um pouco o papa e, espirituoso que era, deixava escapar a sua verve, o seu talento, a sua cultura, enriquecendo os nossos informais bate-papos; Adroaldo Ribeiro Costa, um artista, usava como poucos a palavra, a voz e as mãos. Passaram por aquela assembléia, Eliezer e Heráclio Salles, o Maestro Agenor Gomes e tantos e tantos outros dessa mesma estirpe. Até o poeta Eurícledes Formiga, a quinta memória do mundo, e repentista fantástico, que passou por aqui esbanjando talento, participou das nossas reuniões na porta da casa de meu pai.
   O Professor Édio Souza, ainda bem jovem, freqüentava com assiduidade os nossos saraus e já deixava brilhar o seu talento. Ele não me deixa mentir.
   Quando eu acordei hoje às 5 da manhã eu estava sonhando, exatamente, com uma dessas reuniões.
   Não é para sentir saudade?





domingo, 10 de outubro de 2010

INDELÉVEL SAUDADE

   Enigmático, inteligente, simpático. Tinha tiradas espirituosas que faziam os outros rirem, embora ele nunca desse uma gargalhada, apenas esboçava um sorriso contido de quem tinha receio de mostrar-se feliz. Era uma pessoa querida, todos gostavam ou tinham pena dele. Não teve sonhos, e se os teve faltou- lhe coragem para persegui-los, as oportunidades se lhe passavam e ele as assistia como mero espectador; contentava-se com o que tinha, e não tinha quase nada. Afogava as suas angústias, por longos períodos, no álcool, entremeando-os com leituras pessimistas de autores pessimistas, como a querer, com eles, identificar-se. A dor e o sofrimento lhe acompanharam a vida toda. Nada lhe dava prazer, alegria, gozo. Não havia motivos aparentes para tanta desdita, era coisa da alma, da psique. Ora fugia das pessoas que lhe amavam, ora as procurava, como se tivesse fugindo de si mesmo, ou procurando-se a si mesmo. Não via o mundo como criação de Deus, não tinha Deus na alma, tinha os astros na mente e os culpava pelo seu destino. Perdeu a vontade de viver. Mostrou-se céptico até a sua última gota de vida. Esperei tanto que ele descobrisse que foi Deus quem fez os astros e quem mandou Jesus – a luz do mundo – para clarear-lhe os caminhos e mudar o seu destino. Tenho receio que tivesse morrido sem Jesus. Tomara que não. Bem, isso aí só o próprio Deus sabe. Entre a vida e a morte pode entrar, a qualquer momento, a misericórdia de Deus. “Eis que estou à porta e bato”. Abri-la ou não é decisão nossa.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

MINHA MISSÃO

   Eu tenho cinco filhos: Rosa, Tito, Mundinho, Marcos, a quem a mãe chama de Buti e eu chamo de Marcão, e Paulinho, nosso caçula, a quem eu chamo de Palegão e a mãe de Linho. Os criei com todo zelo, naturalmente que meu zelo não é igual ao zelo de A, B ou C, cada um tem a sua forma peculiar de zelar, mas com certeza dei tudo de mim e o fiz com a maior alegria, primeiro porque neles estavam as minhas esperanças, os meus sonhos, de fazer deles o que eu não pude ou não soube fazer de mim mesmo e, também, porque esta é a minha forma de zelar e cuidar de filhos, e com muito amor, porque sem amor eu nada teria feito como não fazem os que não têm amor, o amor é que nos dá as virtudes da renúncia e do sacrifício. Zelando e amando cometi erros, mas zelando e amando. Pelos erros peço perdão, a esta altura acho que já fui perdoado, pelos acertos dou graças a Deus. E quantos acertos!

   Quis Deus que eu, já no outono da vida, criasse Mariana, minha neta, filha de minha filha.

   Mas Deus renovou as minhas forças, redobrou a minha capacidade de renúncia e de sacrifico e eu comecei tudo de novo. Dez anos já se passaram, Mariana já está uma moça, bonita e inteligente, atributos que não foram dados por mim, naturalmente, foram dados por Deus, mas com muita dedicação e zelo, tenho acompanhado a vida de Mariana, a vida escolar, a vida moral e a vida espiritual, passo a passo, minuto a minuto e só os pais responsáveis sabem o que significa essa tarefa ingente, mas nem os pais responsáveis sabem o que significa isso para um avô, que já tem as suas forças começando a combalir. Não sei se estou sendo bom pai nessa segunda etapa, estou com mais tempo para me dedicar do que tive para os meus filhos, porque estou aposentado, mas avô não serve para pai, só serve para avô, avô não tem de reclamar, de castigar, de acompanhar, de vigiar, avô tem de agradar, de acariciar, de achar graça, de curtir os netos, as tarefas desagradáveis e chatas são tarefas dos pais, não dos avôs, até porque a chatice do pai é mais aceita do que a chatice do avô metido a pai. Contudo careceu que eu fosse pai quando devera ser avô, Deus me deu essa missão, e com a Sua força espero poder levá-la a cabo, falta pouco para que eu possa voltar a ser somente avô. Deus é bom, hoje, amanhã e sempre.



terça-feira, 5 de outubro de 2010

QUERIDA SÔNIA

Itapicuru, 12 de novembro de 1964



Novembro. Já 12 dias
São decorridos do mês,
E na minh’alma a saudade
Carpindo mais cada vez.

A distância é tão cruel
Quando separa quem ama...
Arde e queima como chama
E tem o amargo do fel.

A dor que a distância causa
É a que mais dói meu amor:
Se não mata, antes matasse
Porque matava esta dor.

Calcule só meu sofrer,
Pensando nos seus carinhos,
Na graça dos meus filhinhos,
Só pensando, mas sem ver.

Você sabe como eu sofro,
Você que sofre também...
Já viu como fere tanto
A saudade quando vem?

Mudemos de assunto agora:
Tratemos de... mas, de quê?
De você que é o que mais quero,
Tratemos só de você.

Como vão os males seus?
Está melhor de saúde?
Tenho pedido ao meu Deus
Que lhe proteja e lhe ajude.

Eu lhe conheço e bem sei,
Que você negligencia
O tomar nas horas certas
As gotas de homeopatia.

Merecendo de você
Um favor, eu vou pedi-lo:
Não se esqueça dos remédios
Do homeopata Murilo.

As gotas são milagrosas,
Tomadas regularmente,
Fazem curas prodigiosas
Nos organismos da gente.

Eu quero vê-la feliz,
Satisfeita de viver;
Sem o mal que você diz,
De ter medo de morrer.

Feliz da vida, sentindo
Que tudo são puras rosas
De bênçãos, que vão caindo
Das mãos de Deus, dadivosas.

Mudando de assunto agora,
Vamos falar de dinheiro:
Mandei por dona Etelinda
Trinta e cinco mil cruzeiros.

Recebi naquele dia
O auxílio natalidade
Você não ter me acordado,
Foi uma felicidade.

De Quequinho mande saber
Se Teté já os remeteu
E se você me escrever
Responda se recebeu.

Mando lembranças daqui,
A Aloísio e a Raquel,
E se estiver por aí,
Mando também a Ismael.

Quero notícias da escola,
Quero saber tudo, enfim:
Como foi como não foi,
Quero tin-tin por tin-tin.

Um beijo em Tito na testa,
Um beijo em Rosa nos olhos,
Um beijo no meu caçula,
Mil beijos nos meus pimpolhos.

sábado, 2 de outubro de 2010

NA FALTA DE UM LIVRO

Sem ter um novo livro para ler
E ouvindo um som tocado suavemente,
Peguei da pena e pus-me a escrever,
Sem mesmo ter a ideia ainda em mente.

Uma palavra aqui sem pretender,
Outra palavra e conseqüentemente
Fui rabiscando, e assim, sem perceber,
Já estava germinando uma semente.

A escalada é fazer, é sempre assim:
Uma pedra, um tijolo, uma palavra,
E o que nós pretendemos chega ao fim.

Cuide, entretanto, da matéria prima,
Tudo que se constrói ou o que se lavra,
Pode ruir já mesmo estando em cima.

QUE NÃO MORRAM OS SONHOS

A Rodrigo de Salles Brasil, que não quis (ou não soube, ou não pode) sorver o néctar da vida – o sonho.




A luz brilhava na estrada
Por onde – moço – passei;
Por sonhos iluminada...
E afoitamente viajei.


Na ânsia desta jornada
Muitas rampas escalei,
Espinhos de ponta afiada
Com os pés descalços pisei.


Hoje chego ao fim da estrada
Sem querer flores nem festa.
Basta-me, ao fim da caminhada,


Ver, em pequenos tamanhos,
Na pouca luz que me resta,
Ainda luzir alguns sonhos.

MEU TUGÚRIO

Aqui neste tugúrio eu me confino
Para escrever, ou ler, ou meditar.
Persigo a ideia, busco-a e me fascino,
Ou me prostro, minúsculo, a orar;


Relembro o meu passado e o meu destino
Antevejo complexo ou singular;
Ou fico cego e mudo, ou canto um hino –
Hosanas ao Senhor no seu altar.


Aqui neste meu claustro eu me desnudo,
Mostro-me a mim e a Deus me mostro. Faço
Mil votos de fugir do mal, contudo,


Vestido de cordeiro, o mal me segue...
Mas se fraquejo ou se tropeço o passo,
Jesus me pega pela mão e me ergue.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

UM QUADRO ANTIGO

Menina, se eu desejar
Beijar-te as mãos, tu consentes?
– Beijos podem despertar
Certos desejos latentes...

Deixe-me agora oscular
As tuas faces nitentes,
E esses teus olhos fitar
Para sondar o que sentes.

Desejo beijar-te a boca,
Será que tu deixas ? Coras?
– Tu queres deixar-me louca!...

Já dei-te as mãos... dei-te as faces...
Mas a boca que me imploras
Só daria se me amasses.





"Posso todas as coisas naquele que me fortalece"