domingo, 27 de agosto de 2017

SONETOS DE UM OCTOGENÁRIO

SONETOS DE UM OCTOGENÁRIO   Raymundo de Salles Brasil


QUO VADIS, HOMO SAPIENS?

O mundo foi criado e Deus o encheu de flores,
Encheu também do verde que faz bem, descansa,
Depois foi pincelando de diversas cores,
E foi ficando lindo, e o seu trabalho avança,

Encheu de muitos pássaros – nossos cantores,
Fez o vento soprar nos galhos – fez a dança,
E fez o manancial que flui nos corredores
E desce até à foz e ao belo mar se lança.

A fauna, a flora, o vento, o sol, a lua, tudo,
Para o homem gozar, fruir, cuidar, contudo,
Por ser um filho ingrato se afastou do dono,

E sai matando tudo que Deus fez bem feito:
Destrói, degrada, suja, é mau esse sujeito,
Se não tiver cuidado vai morrer no trono.
6/10/2013


BONS E MAUS DIAS
                          
Quem não sofre no mundo, por acaso?
Ao passar por aqui tem que sofrer,
Já estou chegando ao fim, beirando o ocaso,
E sei bem quão difícil é viver.

Os dias bons me passam a correr,
Escapam-me das mãos como se um vaso
Caísse e o não pudesse mais conter,
Em consequência, às vezes, do descaso.

Mas diferentemente são os dias
De sofrimentos e de nostalgias,
São longos esses dias, são demais,

Parece que não passam se amontoam,
Enquanto os tempos bons céleres voam,
Os dias de sofrer cumulam ais.


ONDE É QUE ESTÁ MEU MAL

Eu tenho tropeçado muitas vezes,
No andar, no meu viver, no meu falar.
A vida tem momentos de revezes,
E a nossa língua fala sem pensar.

Nem sempre nossas pedras são corteses,
E somos impedidos de caminhar,
Tem quem creia nos setes e nos trezes,
Como se fossem números de azar.

No entanto eu culpo apenas os meus erros,
Toda vez que os meus passos ficam perros,
Alguma coisa em mim não está legal,

Pode ser que meu corpo esteja doente,
Meu coração talvez, quem sabe a mente,
Vou pesquisar onde é que está meu mal.
14/10/2013

JESUS É TUDO

 De muitas coisas hoje estou bem convencido,
A vida me ensinou, abriu de vez meus olhos,
Outrora já pensei que eu era bem sabido,
Que seria capaz de andar sobre os abrolhos;

Até, da tal verdade, a dono eu fui metido,
O orgulho, a vaidade, eu carregava os molhos,
Eu não tinha temor de Deus – era atrevido –
E navegava a velas sem temer escolhos.

Mas fui colhendo aos poucos frutos maus, amargos,
Meu erro acelerava os passos – passos largos,
Mas meu bom Deus se condoeu de mim, contudo.

E aos poucos eu fui vendo que eu não era nada...
Como se um sol nascesse em plena madrugada,
Foi nascendo Jesus dentro de mim – que é tudo.
18/10/2013


NEM MESMO A SEPULTURA

Alguém já disse, e acertadamente,
Que o tempo passa, e passa tudo enfim,
Vamos dar tempo ao tempo, minha gente,
E tudo que acontece vai ter fim.

Toda tribulação hoje pendente,
Que lhe apoquenta e que apoquenta a mim
Vai terminar em nada, certamente,
O tempo sempre apaga – ele age assim.

Só uma coisa eu sei que nunca passa,
Também alguém a mim já o dissera,
É o bem que a gente faz – esse perdura,

É o galardão do fiel – fruto da graça –
Que Deus no céu anota, enquanto espera,
Nada apaga, nem mesmo a sepultura.
26/102013


SALVO PELO GONGO

Devo falar um pouco do sei,
Mas não sei nada, do que falo então?
Meu verso espera um tema – o que farei?
Acho que vou falar do coração.

Pois foi no coração que eu encontrei
Um sol destes que queimam no verão,
A frieza do gelo eu visitei,
E vi a luz da lua no desvão.

Conheço-o muito bem, o meu ao menos,
Tem resistido a doses de venenos,
E tem se deleitado no prazer.

Meu coração, segredos tem, diversos,
E um soneto só tem quatorze versos,
Acabou-se meu tempo de dizer.


AS CINCO ESTAÇÕES

Essa vida da gente é coisa boa,
O tempo demarcado, as estações,
Pois cada uma diferente soa,
Mas soam muito bem – como canções.

Na meninice a gente vive à toa,
Na adolescência faz inquirições,
Na mocidade a gente sonha e voa,
E às vezes arrebata corações.

Já na fase madura a sensatez,
Prevalece na gente, prepondera,
É a fase de pensar mais de uma vez.

Mas na velhice a coisa é diferente,
Só se vive pensando: – ah, Deus, quem dera
Retornar ao passado novamente!


OS MEUS SEGREDOS

Nunca queiras saber os meus segredos,
Jamais desejes todos desvendá-los,
Poderiam levar-te a muitos medos,
Antes de ouvi-los é melhor calá-los;

Jesus já os perdoou, por que buscá-los?
Poderiam tirar-te os risos ledos,
Com que me alegras, vamos condená-los,
Definitivamente, a mil degredos.

Segredos são pecados, são deslizes,
São pústulas, são manchas, cicatrizes,
Só Deus, somente Deus deve os saber,

Por mais que te pareça muito estranho,
Somente um coração desse tamanho,
De perdoar-me, tem esse poder.

05/11/2012

FILHÃO:

Você se vai, achou melhor assim,
Não pude fazer nada pra impedir.
Deixa saudade só, dentro de mim,
E uma vontade enorme de carpir.

Não direi que o que sinto é tão ruim,
Porque lhe vejo no semblante o rir
De quem vai se mudar para um jardim
Onde a felicidade vai florir.

Sinto saudade, que me dói e tanto,
Que não vou conseguir conter meu pranto,
Talvez não pare de chorar, jamais.

Mas vou ficar feliz, eu lhe prometo,
E fazer toda vez, mais um soneto,
Que a saudade apertar – viaje em paz.
Raymundo Salles
07-11-2012


FALAR DO AMOR DE DEUS

Falar do amor de Deus aos homens é,
Indubitavelmente, imperativo;
Mostrar-lhes onde a verdadeira fé,
Fazer-lhes crer no Deus eterno e vivo;

O sagrado caminho – do berço até
A colina sagrada, onde cativo,
Foi maltratado do cabelo ao pé,
Até ser morto – e logo redivivo

Para certeza nossa que algum dia
Lá no céu lhe faremos companhia
Somente pela graça e pelo amor.

Seu sacrifício não será em vão
Para quem crê de todo coração
Que Jesus Cristo é nosso Salvador.
8/11/2012


Falar sobre mim me parece enfadonho,
Por isso não gosto, não falo, não digo,
Na mira dos outros, no entanto, eu me ponho,
Embora sabendo que exista perigo.

Perigo que corro, e bem sei que medonho,
Porque muito amigo (que diz ser amigo)
Às vezes me deixa deveras tristonho,
De fato não é, lhe entender não consigo,

De enganos me enche, e de muita ilusão,
Somente elogios aos meus dotes e vão
Instando a vaidade e amaciando meu ego.

Mas tem o leal, o sincero, que aponta
Os erros que tenho, os defeitos, e os conta,
Os olhos me abrindo a deixar de ser cego.


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