SONETOS
DE UM OCTOGENÁRIO Raymundo de Salles
Brasil
UMA PERGUNTA
No meu tempo de rapaz,
Determinados costumes,
Que hoje são muito normais,
Só se viam nos curtumes.
E fico pensando mais,
Buscando na mente lumes,
Coisas que hoje são legais
Já foram tidas estrumes.
Sentado nos meus oitenta,
Idade que só lamenta,
Eu fico me perguntando:
Tanta coisa que era boa
Está se jogando à toa...
O mundo está melhorando?
24/05/2013
FALAR DE AMOR!
Falar de amor! Não já falaram tanto?
Não já disseram tudo sobre o amor?
Que é bom, que é doentio, que leva ao
pranto,
Que ele até pode nos matar de dor?
Não já disseram que ele é puro, é
santo,
Que tem o cheiro suave de uma flor,
Do amor maior, sublime, sacrossanto,
Do grande amor de Deus, nosso Senhor?
– Falaram sim, mas é preciso mais,
É preciso jogar essa semente
No coração de todos os mortais.
Porque sabemos, e sobejamente,
Que o amor, mesmo que doa, ele é capaz,
De encher de sonho o coração da gente.
O NOME DELE É IGOR
Em nossa casa mora um cachorrinho,
Não me pertence, eu sei, mas me quer
bem.
No lugar onde estou sempre ele vem
Lamber-me os pés como a fazer carinho.
E para não me incomodar, porém,
Ali se deita bem devagarzinho,
Ele é peludo, é branco e tão mansinho...
A todo mundo, ter um cão, convém.
Ele não faz questão de quase nada,
Quer ser tratado apenas com amor,
De atenção, vez em quando, uma pitada.
Quando saio e não o levo, ele acha
ruim,
Ele quer me seguir para aonde eu for,
Pois só se sente bem junto de mim.
30 07 2013
A MORTE DE UM SONHO
Morreu meu sonho, foi por água a baixo,
A lâmpada apagou dentro de mim,
Desceu na correnteza de um riacho,
Buscando um rio maior, o mar em fim.
Aquela luz que ardia como um facho,
O sonho-flor maior do meu jardim,
Despetalou-se, última flor do cacho,
E fez-se em dor, achou melhor assim.
Meu coração tem um tamanho enorme,
Vai acolher um outro bom que dorme,
Para voltar a me fazer feliz.
Eu não posso ficar é sem um sonho,
O sonho me alimenta, e nele eu ponho,
Tudo que faço, que farei, que fiz.
Porteira Verde, 6:00 – 02 08 2013
MEU VERSO TRISTE
Eu comecei fazendo um verso triste,
Eu estava triste, muito, nesse dia;
O poeta, de cantar, nunca desiste,
Mesmo até cheio de melancolia.
Meu verso é como um bálsamo, que
insiste,
Na esperança de ver minha agonia
Minorada da dor que, em suma, existe,
Para fazer mais verso e mais poesia.
Aliás, o verso gosta dos extremos,
Das emoções, quanto maior a temos,
Mais depurado fica e se decanta.
Se alegre estamos, salta de alegria,
Mas nunca tem a mesma melodia,
Do que não sai, e morre na garganta.
.
EU QUERO SER FELIZ, MAS DE VERDADE
Eu tenho, sobre vidas, pesquisado,
Sem ser especialista na questão,
Apenas porque fico preocupado
Com o que faz feliz um coração.
Existe um leque enorme, preparado,
Fantástico banquete de ilusão,
Mas existe Jesus, ressuscitado,
Sempre disposto a conceder perdão.
Entre as coisas efêmeras do mundo,
Que podem sucumbir num só segundo,
E as promessas de Deus de eternidade,
Das promessas de Deus ninguém me tira,
Não quero ser feliz só de mentira,
Eu quero ser feliz, mas de verdade.
10/09/2013
MEUS QUINDINS
Eu faço muitos versos, um
bocado,
Dizem que quem faz muitos,
fá-los ruins,
Mas o que eu vou fazer do
tempo alado,
E que se encontra já, pelos
confins?
Agrada-me, divirto-me. Fadado
A fazer versos eu nasci –
sem fins.
E do rimado e do
metrificado,
Eu gosto mais, são eles
meus quindins.
Revelar os meus ais, os
meus segredos...
Buscar a rima sã, contar
nos dedos,
Ver o verso cantar nos meus
ouvidos...
É coisa que não tem como
explicar,
Comparo-o com um beijo
singular,
Quando se ouvem gorjeios e gemidos.
13/09/2013
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