segunda-feira, 18 de outubro de 2010

NO TEMPO DO MOTRIZ



            Li um artigo de Vitor Hugo Soares publicado em A Tarde de 14/01/05 – “Da janela do Motriz” – e fiquei encantado. É um elogio à letra de Caetano Velloso da música Motriz interpretada magistralmente por Maria Bethânia. O artigo levou-me a ler com mais apuro a letra do nosso poeta e pude perceber que Caetano diz muito mais nas entrelinhas do que propriamente nas linhas dando-me até a impressão de que ele usa as linhas apenas para mostrar as entrelinhas. Fiquei mais uma vez encantado com a beleza das linhas e com a poesia das entrelinhas. Falou-me à alma. Fiz uma viagem no tempo aos idos de mil novecentos e cinquenta e deparei-me indo esperar o Motriz, na Estação da Praça 14 de Junho. Que bom! Que bela viagem! Arre! Estou ficando saudosista demais e não sei se isso é bom. Mas que posso fazer? Se aqui e acolá vem um Vitor Hugo que nem é santo-amarense ou um Caetano Velloso que o é até a alma e me leva a pensar no passado, a viver o passado, a sorver o passado, saborear o passado, a deglutir o passado. E eu termino não achando graça nenhuma no presente, e a realidade não é bem assim. Eu amo o presente e ainda tenho muitos sonhos para o nosso futuro, para o futuro de minha Terra. Sonho com a minha cidade pacata e ordeira, como no tempo do Motriz; sonho com os nossos prédios coloniais recuperados, como no tempo do Motriz, sonho com a nossa Rua Direita trafegando um bondinho puxado a burros para alegria da gurizada e dos turistas, como no tempo do Motriz, sonho com dois coretos na Praça da Purificação exibindo duas filarmônicas, como no tempo do Motriz; sonho com uma cidade limpa, como no tempo do Motriz; sonho com as nossas calçadas responsavelmente cuidadas, permitindo-nos andar sem receios de uma topada, como no tempo do Motriz; sonho com um mercado decente e uma feira-livre organizada e limpa, como no tempo do Motriz; sonho com os nossos jardins gramados e floridos, como no tempo do Motriz; sonho com o Rio Subaé navegável e piscoso, como no tempo do Motriz, e com suas margens arborizadas e iluminadas; sonho com o Largo da Cruz, com o Jardim dos Casados, com a Praça Menina de Toninho Mesquita que não faziam mal a ninguém; sonho com o Apolo e seus bailes de gala; sonho com a Praça da Purificação engalanada para receber em suas passarelas um desfile de moda e de beleza na tradicional festa de fevereiro, como no tempo do Motriz; sonho com a Estação da Leste viva, como no tempo do Motriz. Sonho minha cidade como era no tempo do Motriz e morro de saudade.

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"Posso todas as coisas naquele que me fortalece"