Enigmático, inteligente, simpático. Tinha tiradas espirituosas que faziam os outros rirem, embora ele nunca desse uma gargalhada, apenas esboçava um sorriso contido de quem tinha receio de mostrar-se feliz. Era uma pessoa querida, todos gostavam ou tinham pena dele. Não teve sonhos, e se os teve faltou- lhe coragem para persegui-los, as oportunidades se lhe passavam e ele as assistia como mero espectador; contentava-se com o que tinha, e não tinha quase nada. Afogava as suas angústias, por longos períodos, no álcool, entremeando-os com leituras pessimistas de autores pessimistas, como a querer, com eles, identificar-se. A dor e o sofrimento lhe acompanharam a vida toda. Nada lhe dava prazer, alegria, gozo. Não havia motivos aparentes para tanta desdita, era coisa da alma, da psique. Ora fugia das pessoas que lhe amavam, ora as procurava, como se tivesse fugindo de si mesmo, ou procurando-se a si mesmo. Não via o mundo como criação de Deus, não tinha Deus na alma, tinha os astros na mente e os culpava pelo seu destino. Perdeu a vontade de viver. Mostrou-se céptico até a sua última gota de vida. Esperei tanto que ele descobrisse que foi Deus quem fez os astros e quem mandou Jesus – a luz do mundo – para clarear-lhe os caminhos e mudar o seu destino. Tenho receio que tivesse morrido sem Jesus. Tomara que não. Bem, isso aí só o próprio Deus sabe. Entre a vida e a morte pode entrar, a qualquer momento, a misericórdia de Deus. “Eis que estou à porta e bato”. Abri-la ou não é decisão nossa.
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